Antônia – Capítulo 11

Ele disse para colocarmos as mãos no rádio e, com os olhos fechados, determinar a nossa mudança. Eu fiz isso! Sim, eu fiz com toda fé da minha alma.

No término da oração, eu estava leve. Parecia que um peso enorme havia saído de cima das minhas costas. Aquele desejo de me enforcar, como fez meu pai, não estava mais.

Respirei fundo e sorri.

Aquela foi a noite mais deliciosa da minha vida. Eu estava em paz comigo mesma.

Três dias se passaram, e eu sustentava aquela palavra do homem do rádio em meu coração. Não sabia quem era ele, mas sei que houve uma mudança dentro de mim.

Acordei cedo e fui para o trabalho. No horário do almoço, a supervisora chegou com a Cadú. Chamou minha atenção, e fui levada até a sua sala.

Eu estava sendo punida por ter roubado uma foto sem nunca ter visto essa foto.

Vi nos olhos dela o ódio novamente. A supervisora disse que, para o meu bem, me colocaria na solitária por aquela noite.

Eu não entendi nada e fiquei muito revoltada! Briguei com aquele Deus do homem do rádio. Se Ele estava me protegendo, por que me colocaria numa solitária, mesmo sabendo que eu não fiz nada? Mais uma injustiça na minha vida! Eu não aguento mais!!

Passei uma noite, um dia e mais outra noite lá dentro. Sozinha, sem ver ou ouvir ninguém. A comida era colocada em baixo da porta por uma fresta muito pequena, em que  cabia somente a pequena marmita. Mesmo sem entender nada, ainda assim, havia paz dentro de mim.

Na manhã da minha saída da solitária, tive que ficar esperando ordens até o meio dia. Me deixaram ver o que estava acontecendo pela janela, já que eu não oferecia risco para ninguém.

Meu coração estremeceu com as cenas que vi. As presas fizeram uma rebelião. Queimaram colchões e, junto com eles, queimaram sete meninas vivas. O cheiro era insuportável: cheiro de carne queimada, além disso, havia muito sangue no chão. Muita gente foi espancada. O inferno atacou novamente. Acho os demônios passaram por lá…

A menina que me emprestou o rádio foi uma delas, queimada viva. Amarraram as espumas dos colchões em seus corpos e prenderam com tiras de camisetas. Atearam fogo com álcool. Isso tudo aconteceu na madrugada em que eu fui para a solitária… Deus me livrou… Essa seria a grande oportunidade delas me matarem.

Eu ouvi a palavra daquele homem no momento certo. Era para ser meu corpo carbonizado naquele chão!

Médicos escoltados, por policiais fortemente armados, estavam cuidando das vítimas… as que sobraram…

As presas que fizeram isso tudo foram transferidas para outra penitenciária, agora de segurança máxima. Elas eram loucas e possuídas. Sei que dentro delas tem um bom coração, mas existe algo que realmente fala na cabeça delas, porque não é possível um ser humano ser tão ruim assim, ter tanto desejo por sangue. Machadinha foi transferida junto com Cadú. Agora, nem visitas elas poderão receber. Eu queria dar aquele radinho para uma delas, quem sabe a paz entra nelas como entrou em mim.

Meuri Luiza